Bilhete
de Primavera
A
primavera chegou e com ela todo um sentimento de corações apaixonados esperando
sua cara metade. Em pares seres se encontram, conhecem-se e em alguns casos
permanecem juntos por toda uma vida.
Por
anos observo esse processo daqui onde estou. Já vi tanta coisa de admirar, mas
um caso em especial gostaria de contar a vocês.
Era
uma tarde de primavera aqui na praça e os pássaros cantavam com alegria entre
voos rasantes no jardim central, borboletas coloriam ainda mais as cores das
flores, mas, reparei que alguém estava triste, cabisbaixo, indiferente com tudo
o que acontecia ao seu redor. Observei que ele olhava às vezes para alguns
outros seres que passavam por perto, esses com roupas iguais as dele, também
tinham livros e cadernos que carregavam junto ao corpo. Observei que em alguns
momentos nosso amigo fixava o olhar em uma em especial, mas quando ela retornava
o olhar ele disfarçava, mudava de caminho ou começava a fazer algo diferente.
Digo isso porque não foi à primeira vez e acredito que não seria a última. O
dito foi feito.
Outro
dia quando reparei, ele estava perto de mim e escrevia alguma coisa em seu
caderno. Acho que uma frase, mas não consegui ler todo o escrito, algo assim:
“Querida rosa, seu desabrochar nesta primavera fez meu coração”... Sei que vi
pouco, gostaria até de poder ter lido tudo, tentar entender os sentimentos
desse ser com dificuldades de aproximação, mas a hora já estava avançada e ele
foi embora. Na semana seguinte percebi sua aflição quando tentou se aproximar e
em meio a sorrisos e gargalhadas veio cambaleando em minha direção.
Nervosamente pegou um pedaço de papel bem dobrado que estava em seu bolso e o
enfiou numa fresta que avia na parede do meu lado, sentou um pouco, lacrimejou,
enxugou o rosto e saiu em direção ao portão da praça.
Tempos
se passaram, os seres iam e viam e as coisas aconteciam como de costume. Até
que uma jovem encontrou aquele papel dobrado que estava escondido na fresta da
parede do meu lado. Depois de ler o que estava escrito ela pegou outra folha de
caderno e copiou o escrito, mas percebi que mudava uma ou outra coisa. Saiu correndo
em direção a outro jovem deixando a folha cair no chão, como uma folha que cai
da árvore central do jardim em época de outono. Quando no chão, pude ver o que
estava escrito: “Querida rosa, seu desabrochar nesta primavera fez meu coração
aflorar para o desconhecido, algo que só vi em contos de fadas e se desejar, se
assim permitir, esse coração que chora por você será seu por toda a
eternidade”.
Quanto
ao jovem que escreveu o bilhete, não conheço o resto de sua história, pois, só
posso ver o que esta à minha frente. Mas a jovem que o copiou está enamorada
daquele a quem entregou a copia do bilhete de primavera. E de vez em quando
sentam ao meu lado e observam o por do sol, um dos últimos dessa primavera.
Mário Sérgio dos
Santos.

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